quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Seis meses depois...a partida

Cheguei e fiz exactamente as mesmas coisas de sempre, só que com uma atenção diferente.
Entrei e desactivei o alarme, acendi as luzes por todo o espaço. Na nossa sala, abri as janelas para que a luz entrasse, liguei o ar condicionado a 27 graus e dei de comer aos peixinhos fly e doc.
Coloquei ainda uma rosa amarela na mesa de cada uma delas, rosinhas que protegi cuidadosamente durante mais uma atribulada viagem no metro. Queria deixar-lhes algo especial. Uma flor, apesar de mais cedo ou mais tarde murchar, tem sempre a capacidade de colorir um lugar e por conseguinte o dia de alguém. De todas as vezes que recebi flores senti-me especial e hoje quis que soubessem como são especiais para mim.
Sentei-me na minha secretária e liguei o meu computador. Como imagem de fundo tenho uma montagem feita pela Sara, na qual a minha foto aparece impressa na retina de um olho.
Um dia tivemos a brilhante ideia de fazer dessas montagens especiais, onde colocamos a nossa cara em corpos de celebridades e coisas do género. O resultado foram boas gargalhadas.
Seis meses depois, ao chegar ao escritório para o último dia de trabalho, fiz as mesmas coisas que sempre fiz desde que cheguei cá.
Fiz questão de vestir hoje a mesma camisola aos losângulos amarelos e beges que vesti no primeiro dia que cá estive. Vim com a professora e conheci o pessoal.
As coisas que aprendi vão servir para a vida toda e não me arrependo da escolha que fiz.
No entanto, há alturas na vida em que sentimos que precisamos partir, mudar, modificar algo, e foi essa decisão que me moveu para isto:vou-me embora porque sinto que preciso mudar, escolher outro rumo, ter tempo para procurar um caminho que apesar de não saber ainda bem qual, já tenho um esboço feito.
Há alturas na vida em que pensamos que estamos bem como estamos, por termos o trabalho perfeito, os amigos perfeitos, a nossa alma gémea ao nosso lado, mas mais tarde, tal como tantas supostas almas gémeas se separam, também outros pormenores da vida se modificam.
O que sinto hoje é um misto de alivio,contentamento, entusiasmo,porque preciso de "estar comigo", preciso encontrar-me, mas também nostalgia, porque quando ficamos num lugar algum tempo, há sempre motivos para ter saudades.
Há alguns tempos atrás, escrevi aqui uma postagem que se intitulava 2 meses depois, onde falei do que sentia em relação a estar aqui. Coisas como não gostar de Lisboa, não me adaptar, não amar o Tejo. Contrastes e comparações que sempre estabeleci entre esta cidade e aquela que gosto verdadeiramente. É assim o ser humano. Há sempre uma tendência para a comparação, para o sofrimento, para nos sentirmos miseráveis por estar num lugar em vez de estar no outro. Uma das minhas características mais marcantes é a minha dificuldade em desprender-me de certas coisas e pessoas. Sempre fui assim, e por mais que queira não poderei nunca mudar. A partir do momento em que me "apaixono" não posso nunca deixar pra trás...não totalmente.
Tenho pena de partir pelas coisas boas que vou deixar e que conquistei, mas sinto-me segura da minha decisão, orgulhosa até,pois sei que foi para o meu bem, e a melhor decisão possível dadas as circunstâncias.

Estou feliz? Sim. Terei saudades?Também. Mas faz parte...

1 comentário:

Acaso não é certamente disse...

Fica sabendo que as rosinhas amarelas ainda aqui estão a dar um colorido especial à sala e a nós. E só vão sair quando todos sairmos. A vida é feita de decisões e tu tomaste a tua, e creio que acertada. Desejo-te muita sorte no teu novo rumo e espero que se cruze com o meu muitas vezes. Bjinhos muito grandes